Pedagoga e especialista em gestão escolar, irmã Helena Figueiredo integrou a primeira equipe do Curso de Aperfeiçoamento de Professores da Escola Dominical (CAPED), promovido pela CPAD. É autora de duas obras publicadas pela editora e atuou como preletora em congressos e conferências de Escola Dominical por quase cinco décadas. Irmã Helena é a segunda entrevistada da série “Semeia a Palavra”.
Na entrevista, Helena fala sobre a importância de semear a Palavra, enfatiza a importância do professor se especializar para ganhar alunos para o Reino e relembra suas experiências no campo missionário, período em que integrou a coordenação pedagógica da Escola de Missões das Assembleias de Deus (EMAD). Acompanhe.
Como nasceu o chamado para ensinar a Palavra de Deus?
Eu não sei exatamente como se deu o meu chamado para o magistério. Minha mãe era professora secular e também da EBD. Desde cedo, eu ainda como adolescente, gostava de ir ajudá-la com as crianças, tanto na escola onde ela lecionava como na igreja. Eu me sentia feliz, formando as crianças, contando histórias, cantando e assim, aos poucos, fui desenvolvendo o talento que Deus havia me dado, o ministério do Ensino.
A senhora foi uma das fundadoras do CAPED, junto com o saudoso pastor Antonio Gilberto. O que os impulsionou a investir na formação de professores de Escola Dominical?
Como foram os suecos que nos trouxeram a doutrina pentecostal, eles davam prioridade a pregação e a cura divina, enquanto que o ensino bíblico era pouco valorizado. O pastor Antônio Gilberto vendo esta necessidade, orou neste sentido e Deus lhe orientou em organizar o Curso, que foi aprovado pela CPAD. Pela misericórdia de Deus, fui convidada para integrar na primeira equipe docente do referido curso, junto ao meu esposo, irmão Othoni de Figueiredo. O primeiro CAPED aconteceu na AD de São Cristóvão em julho de 1974.
Após o lançamento, os pastores começaram a nos convidar para realizarmos o curso nas igrejas deles e assim foi se estendendo por todo o território brasileiro. Desta maneira, iniciamos o CAPED voltado para a necessidade do Ensino, principalmente, dos departamentos Infantil e Adolescente. Porque muitas heresias vêm por falta de conhecimento como está no livro do profeta Oséias 4.6 “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento,…”
“Precisamos multiplicar nossos esforços em evangelizar e aperfeiçoar nossos métodos”
Irmã Helena, a senhora atuou no curso de Evangelização Infantojuvenil promovido pela CPAD e, em 2004, lançou o livro “A Importância do Evangelismo Infantojuvenil” pela editora. Na sua visão, qual é a relevância desse tema nos dias de hoje?
Ensinar os infantojuvenis não há época. Logo no Pentateuco lemos o conselho de Moisés em Dt 6.6-9; mais adiante o sábio Salomão em Pv 22.6 também nos orienta e assim a Bíblia nos ensina a sempre incluirmos os infantojuvenis ao aprendizado. No ministério de Jesus, em meio à multidão que se aglomerava para ouvi-Lo, trouxeram-lhe algumas crianças para que as abençoasse. Os discípulos, procurando afastá-las, impediam que chegassem à presença do Mestre. Jesus, porém, indignou-se com tal atitude, repreendendo-os, “chamou-as para si”. No Brasil, apesar de sermos uma nação de jovens, também somos um povo cheio de problemas: milhões de nossos adolescentes estão envolvidos com sexo, drogas, engano, problemas familiares, religiões falsas e toda sorte de influência nociva. Sendo assim, precisamos multiplicar nossos esforços em evangelizar e aperfeiçoar nossos métodos pois esta faixa etária precisa de Cristo hoje e agora antes que seus corações endureçam e se encham de descrédito.
“A multidão permanece desgarrada, errante, ansiosa, sedenta e carente para ouvir a Palavra de Deus.”
Durante o período em que a senhora esteve à frente da coordenação pedagógica da Escola de Missões das Assembleias de Deus (EMAD), pôde visitar diversos países e conhecer de perto a realidade missionária. A partir dessas experiências, como a senhora enxerga hoje as principais necessidades do campo missionário?
Nunca senti que Deus me queria diretamente no campo missionário, mas sempre Ele me despertou para cooperar com a Obra. Nas escolas onde eu liderava como diretora tive o apoio do ministério Bernhard Johnson nos cedendo material bíblico para os alunos e conseguimos entregar mensalmente a cerca de 250 escolas das redes municipais e privada para 50 mil alunos, lições bíblicas, que se intitulavam “A Bíblia para crianças”. Quando fui coordenadora pedagógica da Escola de Missões das AD (EMAD) estimulava os alunos a obedecerem ao IDE. Deus me deu a oportunidade de visitar alguns países da África, como Moçambique, onde pude dar algumas aulas num Seminário de EBD e visitei uma igreja em Namíbia, também algumas da Ásia; fomos também ao Canadá e Estados Unidos onde visitei campos missionários; a Bolívia que muito me marcou pela sua carência. Também fui coordenadora pedagógica da Alfalit, quando ensinei o método de alfabetização para jovens e adultos, para os alunos da EMAD, quando fossem para o campo de idioma português, pudessem formar grupos de alfabetização para ensinarem a leitura da Bíblia. Tive oportunidade de ir em duas expedições pelo interior do Amazonas, onde evangelizamos os ribeirinhos, comunidades carentes de grande necessidade e também de ausência de igrejas evangélicas.
A carência no campo missionário, creio que continua, pois cada vez que nos aproximamos da Vinda de Jesus, o inimigo se levanta, criando estratégias e dificuldades. Precisamos orar pelos cristãos que se convertem nos países islâmicos, pois enfrentam pressão da própria família e da comunidade, para que tenham força para perseverar na FÉ, apesar dos perigos e que tenham Sabedoria e coragem para compartilhar a Fé com seus familiares e amigos. O clamor que Jesus nos deixou para que fizéssemos em Mt 9.38 “Rogai, pois, ao Senhor da Seara…”, continua até hoje. A multidão permanece desgarrada, errante, ansiosa, sedenta e carente para ouvir a Palavra de Deus.
Sua carreira foi encerrada de forma muito especial no 10º Congresso Nacional de Escola Dominical da CPAD, realizado em 4 de novembro de 2022, quando a senhora foi uma das preletoras e recebeu uma homenagem da Editora por quase 50 anos de dedicação ao ensino cristão. Ao relembrar essa jornada, quais foram os desafios enfrentados ao longo desse ministério?
Em toda a minha vida, trabalhando no ministério do Ensino, enfrentei desafios. Desafios estes, que sempre tive o Senhor me ajudando, me aconselhando, me orientando para que eu pudesse desenvolver o meu trabalho. Primeiro sendo mulher, nasci numa época em que as mulheres não deveriam trabalhar. E eu me formei exatamente quando me casei. E, com um nordestino que nunca me impediu de exercer a minha profissão, ao contrário cooperou comigo sempre que eu precisei. Sou funcionária da Prefeitura do RJ, fiz licenciatura em Pedagogia com Especialização em Administração Escolar; Pós-graduação em Docência a Nível superior; fiz vários cursos, que me ajudaram muito para a Obra do Senhor. Outro desafio foi quando iniciamos o CAPED. Enfrentar muitos pastores conservadores, onde o ministério feminino não era bem-aceito e nós, mulheres, sempre ocupávamos um lugar secundário. Aos poucos, com a orientação de Deus, tanto eu como a Profª Albertina Malafaia, fomos sendo reconhecidas e assim, os pastores foram nos aceitando e percebendo que só estávamos somando e não inovando. É como a Bíblia nos diz em Pv 14.1 “A mulher sábia edifica a sua casa…” Agradeço muito ao meu esposo pelo apoio e compreensão, por ser um verdadeiro companheiro em toda a minha carreira no magistério. Ao saudoso pastor Antônio Gilberto pela confiança em me convidar para fazer parte do corpo docente de um curso que ainda seria testado nas Assembleias de Deus e também à CPAD, na pessoa do Dr Ronaldo que sempre me considerou. A Deus toda a Honra, Glória e Louvor!
“O professor deve ser o exemplo a fim de que consciente de que sua maneira de agir, influencie seus alunos para que dêem frutos.”
Irmã Helena, a senhora foi convidada a participar do CAPED do Centenário, realizado em junho de 2024, e naquela ocasião recordou momentos da época em que atuava como professora, afirmando que “a criança aprende com o exemplo.” Com base nessa afirmação, como deve ser o preparo de um professor cristão?
A minha afirmação do exemplo é baseada na Bíblia, quando lemos em 1Co 11.1 e Fp 3.17 o apóstolo Paulo nos convidando a imitarmos o seu exemplo. Em Lv 11.44 também nos ensina a imitarmos a santidade de Deus, vivendo de forma pura e obediente aos seus padrões e em 1 Pe 1.16, o apóstolo Pedro reitera o que está lá no Pentateuco. Assim, baseado nestes exemplos, devemos ser referência não só para os nossos filhos como também para os nossos alunos. Assim, o professor deve ser o exemplo a fim de que consciente de que sua maneira de agir, influencie seus alunos para que dêem frutos.
Que conselhos a senhora deixa para os professores que levam a preciosa semente em classes de Escola Dominical?
Levar as Boas Novas e o Ensino bíblico na EBD é um desafio que, por ser um grande campo missionário exige intrepidez e ousadia para o cumprimento da missão bíblica que nos diz em Mt 28.19 “Ide e ensinai…” A Escola Bíblica Dominical é a maior agência de ensino bíblico, onde o aluno deve receber o alimento espiritual e os professores devem trabalhar para um objetivo comum, tríplice: salvação, discipulado e ao mesmo tempo o serviço, isto é já preparando o seu aluno, exercitando-o, para que mais tarde ele também venha a ser um pregador do Evangelho.
Qual é o maior legado que a senhora deseja deixar para a próxima geração de educadores da fé?
Que sejam cumpridores e responsáveis do ministério que receberam do Senhor como nos recomenda o apóstolo Paulo em Cl 4.17 “...para que compras”, lembrando sempre que é Deus quem nos dá o talento e nos capacita e é Ele também quem nos escolhe e nos nomeia para darmos frutos. E orarmos para que os nossos frutos permaneçam (Jo 15.16). De nosso esforço, procuremos estudar, pesquisar, planejar, programar tudo que vai ajudar a explanação das lições. Sempre em oração para que o Espírito Santo convença e revele ao aluno. Que Deus abençoe cada professor!
Por Luciene Saviolli
