Pregar o Evangelho a tempo e fora do tempo deve ser o maior objetivo do cristão (2º Timóteo 4.2). A nossa quarta entrevista da série “Semeia a Palavra” é com o pastor José Satírio dos Santos, que compartilha um pouco da experiência dele em solo colombiano.
Nascido em 1946, o pastor e missionário José Satírio dos Santos chegou à Colômbia, juntamente com a esposa, Nair de Andrade dos Santos e os filhos Sulamita, Eliseu e José Jr. em 1975. Ele serve ao ministério por mais de 50 anos, sendo 40 destes na cidade de Cúcuta, na Colômbia, onde fundou o Centro Cristão das Assembleias de Deus no mesmo ano em que ele chegou neste país.
O trabalho do pastor tem sido destacado com reconhecimentos de organizações privadas e governamentais, regional, nacional e internacional. Pela CPAD, ele lançou os livros: “Missão em Cúcuta” e “Fé, visão e destino profético – O caminho do Missionário”.
Como nasceu o chamado do senhor para fazer Missões?
Meu chamado missionário começou muito cedo, quando eu ainda era um adolescente, trabalhando ao lado dos meus pais em Maceió. Eu tinha uma rota de trabalho para a entrega dos pães fabricados em casa. Pela manhã, eu pegava meu carrinho e começava minhas entregas.
De volta para casa, eu escolhia um caminho mais longo, porém mais prazeroso, que era pela praia, à beira do mar, a areia era fresca e a brisa do mar compensava o esforço.
Um dia desses ensolarado, com os pés descalços e pouco entusiasmo para prosseguir, olhei para a imensidão do mar e perguntei ao Senhor: “Pai, isso é tudo o que tens para mim? Andar descalço, empurrando um carrinho e sem maior expectativa na vida? E a voz do meu Senhor ecoou dentro de mim e me respondeu: “Não. Tu serás o que queiras ser em mim.”
Com essa palavra, ativou-se em mim a visão do meu futuro, e os meus passos já não seriam incertos. Com o passar, tudo mudou, fomos para uma nova cidade, grande São Paulo, para um novo capítulo, e iniciei meu serviço voluntário para Deus no lugar onde Ele me levou. Eu servia em tudo: desde carregar instrumentos musicais, partituras para os músicos até liderar os jovens. E o fazia com amor, visualizando o que eu poderia ser em Deus.
“Uma jovem trouxe um cartaz escrito em espanhol: “Bienvenido a Colombia, una tierra feliz!”
Em 1975, o senhor e a sua família chegaram à Colômbia para fazer Missões. Como foi o processo de escolha desse país?
Eu não escolhi servir a Deus na Colômbia. Na realidade, penso que, quando se trata de missões, eu não devo escolher, mas sim obedecer, atendendo ao chamado específico.
No meu caso, um dia, depois de ter chegado do culto, fui ao banheiro, vesti meu pijama, escovei meus dentes, fui ao meu quarto, ajoelhei-me e comecei a orar. Então, em um momento sobrenatural, fui transladado no espírito a um lugar onde algumas pessoas me esperavam. Elas me mostravam a cidade desde o alto de uma colina e, depois, em uma casa, me ofereceram café com leite, queijo e pão.
Uma jovem trouxe um cartaz escrito em espanhol: “Bienvenido a Colombia, una tierra feliz!”
Desde então, conversei com meus pastores e decidi caminhar na direção do meu destino profético. A Colômbia é o meu território de possessão.
Como foi o processo de adaptação da sua família em um país com cultura e alimentação tão diferentes das nossas?
Devemos considerar que toda mudança traz consigo certa resistência, tanto à cultura quanto às pessoas. Nós estávamos mudando de país, não sabíamos falar espanhol, tínhamos três filhos pequenos e nenhum recurso para começar uma nova vida cômoda.
Porém, éramos possuidores de uma visão e de um chamado contundente. Assim, abrimos o coração e a mente para o novo de Deus.
A alimentação foi semelhante, porque Nair sempre foi excelente na cozinha, e, na Colômbia, ela aprendeu a improvisar com a porção diária que tínhamos. Ainda bem que as crianças não eram exigentes e, para elas, no começo tudo era bonito, tudo era novo.

“Começamos realizando cultos nas esquinas e nas ruas, falando em português. De certa forma, isso serviu como um meio de atrair as pessoas; elas aceitaram meu convite e começaram a congregar conosco.”
Fale um pouco sobre a fundação do Centro Cristão das Assembleias de Deus na Colômbia.
No ano de 1975, depois de estarmos instalados na “casa da visão” — a mesma visão em que o Senhor me mostrou o lugar onde a jovem e alguns irmãos me davam as boas-vindas — começamos realizando cultos nas esquinas e nas ruas, falando em português. De certa forma, isso serviu como um meio de atrair as pessoas; elas aceitaram meu convite e começaram a congregar conosco.
Hoje, após 50 anos, temos: 60 igrejas em Cúcuta; 119 no Norte de Santander; mais de 300 em toda a Colômbia; 22 projetos missionários pelo mundo; 758 igrejas unidas à visão, entre filhas, irmãs e amigas, que também trabalham com a nossa estratégia de crescimento.
No seu livro “Fé, Visão e destino profético – O Caminho Missionário”, o senhor escreve: “Uma igreja não nasce porque alguém assim quis. Os que tentam erguer uma igreja com a mente natural caem em frustração e em fracasso”. Qual a mensagem central que o senhor buscou transmitir com esse trecho?
Às vezes, o ser humano pode até acreditar que, com seu potencial, suas estratégias e sua fácil conexão com os demais, conseguirá ir pelo mundo realizando grandes proezas — e até alcançar certo sucesso. Porém, quando as habilidades se esgotam, quando os recursos acabam e não há ninguém para ajudar, tudo se desfaz, tudo vem ao chão.
Somente tendo um chamado contundente, uma fé suficiente para avançar e uma visão que transcenda os obstáculos, essa pessoa poderá chegar ao seu destino profético. Pois ela não dependerá de suas próprias capacidades, mas se apoiará no Deus que a chama.
“Missão é amor, é alcance, mas também é risco.”
Como o senhor define Missões Transculturais?
Abandonar a sua cultura, seus preconceitos e até abrir mão de sua privacidade, para abraçar um povo novo — diferente do seu — com uma cosmovisão totalmente oposta à sua, apenas para vê-los salvos, redimidos, tendo esperança de vida e gozando da salvação. Isso é missão transcultural. E missão é amor, é alcance, mas também é risco.
“A obra missionária no mundo requer pessoas dispostas a se esforçar, a amar, a se capacitar e também a se sacrificar.”
Qual é o maior legado que o senhor deixa para a próxima geração de missionários?
A obra missionária no mundo requer pessoas dispostas a se esforçar, a amar, a se capacitar e também a se sacrificar. Porque missões é amor, é alcance e também é risco.
Eu mesmo, entendendo que o tempo vai passando, tenho grande preocupação em levantar uma juventude com fogo e paixão pelas almas — jovens que usarão a obediência como uma expressão de fé, e farão o trabalho com excelência, usando suas profissões para abrir caminho nas nações, fazendo com que os povos da terra confessem que Jesus Cristo é o Senhor!
Meu legado? Ser de inspiração para a nova geração, tendo fé audaz e dedicação integral à causa do Mestre.
Para finalizar, poderia fazer um balanço de como está a divulgação do Evangelho na Colômbia?
Pela graça de Deus, o Evangelho tem se estendido favoravelmente no território colombiano. Em cada departamento — (a Colômbia está dividida em departamentos) — existe uma igreja das Assembleias de Deus.
Apesar de a situação com os grupos subversivos ser intensa, há sede e fome de Deus; a população corre ao lugar de paz — território de salvação e proteção — que é a casa de Deus.
Dou graças a Deus por poder contribuir para a expansão do Reino do Senhor na Colômbia, tendo igrejas filhas em vários departamentos, tais como: Norte de Santander, Santander, Sucre, Córdoba, Cundinamarca, Boyacá, Valle del Cauca, Antioquia, Bolívar, Nariño, Arauca, Amazonas, Meta, entre outros.

Você também pode conferir outras entrevistas desta série já publicadas no nosso site. A primeira com a Tia Jô (missionária Joani Bentes). A segunda com a irmã Helena Figueiredo e a terceira com o pastor e missionário Olinto de Oliveira.
Por Ezequias Gadelha
