A operação nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28), está sendo considerada a mais letal da história do estado. Até o momento, já foram registrados 136 mortos.
A princípio, o governo havia divulgado um balanço oficial com 64 mortos, sendo 4 policiais civis e militares. No entanto, desde a madrugada desta quarta (29), moradores do Complexo da Penha estão reunindo na praça São Lucas dezenas de corpos encontrados na comunidade. Já foram contabilizados mais 72 mortos, além do balanço oficial.
De acordo com relatos de moradores ao G1, ainda há muitos corpos no alto do morro, na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os confrontos entre as forças de segurança e traficantes.
Segundo a Polícia Civil, o atendimento às famílias para o reconhecimento oficial dos corpos irá ocorrer no prédio do Detran, localizado ao lado do Instituto Médico Legal (IML), nesta manhã. Também haverá uma perícia para confirmar a relação entre essas mortes e a operação.
Em coletiva, na manhã desta quarta (29), dia seguinte à ação, o governador Cláudio Castro só confirmou oficialmente 58 mortes: 4 deles policiais e 54 criminosos. Número inferior ao oficial divulgado anteriormente pelas autoridades. Ele não esclareceu o porque o número anunciado foi alterado.
Castro ainda avaliou a operação como um “sucesso” e que “de vítima ontem lá, só tivemos esses policiais”. Segundo o governador, o principal indício de que os outros 54 corpos eram de criminosos, é porque os confrontos aconteceram em área de mata. “Não acredito que havia alguém passeando em área de mata em um dia de operação”, afirmou.
Na tarde de ontem (28), o governo do Rio e o governo federal protagonizaram uma troca de acusações após o Cláudio Castro afirmar que estava “sozinho” no enfrentamento ao crime e que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria se recusado a decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Prevista na Constituição e regulamentada pela Lei Complementar nº 97, a aplicação da GLO autoriza o emprego das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) em ações de segurança pública em situações excepcionais, quando as forças policiais locais não são suficientes. Neste caso, é concedido aos militares poder de polícia, afim de se restabelecer a ordem pública.
Conforme determinação da lei, a GLO só pode ser decretada pelo presidente da República, a pedido de um governador ou por iniciativa própria, caso o chefe do Executivo federal reconheça que os instrumentos de segurança disponíveis no estado são insuficientes.
Em resposta à acusação de Castro, o Palácio do Planalto declarou nunca ter recebido um pedido formal de GLO e que as Forças Armadas só podem atuar mediante decreto presidencial. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou em entrevista à TV aberta que “a responsabilidade é sim do governador”, disse.
Após o posicionamento do governo federal, Castro afirmou ter sido mal interpretado anteriormente. “Houve uma leitura errada da minha fala”, disse Castro. “Eu não pedi ajuda. A pergunta do repórter foi se o governo federal estava participando da operação, eu falei que não e perguntaram por quê. Nas últimas três ocasiões, pedimos blindados e a resposta foi que só poderiam ser cedidos com GLO. Como o presidente é contra [a GLO], não adiantava pedir de novo”, justificou.
A megaoperação repercutiu na imprensa internacional, como o jornal britânico The Guardian, El País, da Espanha, Deustsche Welle (DW), da Alemanha e rádio francesa RFI.
Redação CPAD News/ Com informações G1, nsctotal e Correio Braziliense
